sexta-feira, 22 de julho de 2011

NECESSIDADES E MOTIVAÇÕES

As nossas motivações estão ligadas às nossas necessidades. A Psicologia Educacional nos diz que a maior de todas as motivações humanas é o desejo de felicidade. E para que possamos atingi-la, criamos outras motivações que se desdobram resumidamente em três ramificações: desejo de saúde; desejo de riqueza; e, desejo de sucesso.

As motivações estão sempre atreladas à satisfação das necessidades naturais. O desejo de saúde, por exemplo, é para satisfação da fome, sede, abrigo, etc. Já os desejos de riqueza e sucesso, nos remetem à realização de sonhos, independência, aprovação social (status), aceitação pública (segurança emocional), etc.

O conhecimento das motivações e necessidades humanas dão condições para compreensão do comportamento humano, assim como para aplicação de processos orientados para gerar mudanças desse comportamento. Nas mãos de vigaristas, isso é uma arma de manipulação perigosíssima.

O termo vigarista é sinônimo de embusteiro, que significa, entre outras coisas, aquele que usa de mentira artificiosa; impostor.

Para ir direto ao ponto, e digo isto com temor no coração, não são poucos os impostores que têm se apropriados do púlpito das igrejas. E, não é difícil discernir que são impostores. O Senhor Deus, por meio do seu Espírito, através de Pedro, nos deixou preciosos ensinamentos que estão escritos na Segunda Carta desse apóstolo. Uma das coisas que deve fazer alguém que se aproxima de um púlpito tremer é “que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana” [2Pe 1.20,21]. Cristo diz a respeito de uma das missões do Espírito Santo como Consolador: “o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo” [Jo 16.13]. Jesus fala sobre o Espírito da verdade. Ninguém que julga dizer a verdade deve se atrever falar alguma coisa de si mesmo. Logo, devemos tomar muito cuidado com essa moda de seguir evangelhos denominacionais, ardilosamente chamados de visões do evangelho; reconhecidos como regras de fé e prática das Escrituras de acordo com a visão de fulano, beltrano e cicrano. Paulo, cheio do Espírito, expressa um desabafo que deve ecoar nos nossos dias e fazer o nosso coração vibrar: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho, o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.” [Gl 1.6,9].

Retornando para II Pedro, o apóstolo inicia o capítulo dois dizendo: “Assim como no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras [2.1] (fábulas engenhosamente inventadas [1.16], pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.” [Ef 4.14]).

Pedro termina a sua Segunda Carta, além de nos deixar instruções sobre o dever de esperarmos o Senhor, sobre vivermos vida reta, dizendo: “o nosso irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles. Vós, pois, amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos; não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” [3.15-18].

Amado em Cristo, depois de entender o que disse o Senhor Jesus em Mt 6.33, “buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”, e perceber a coerência das referências acima, não permita que lhe conduzam ao erro pela prática de uma religião completamente divorciada dos propósitos e decretos eternos de Deus. Religião essa, propagada ora por promessas, ora por declarações positivas de riquezas e de sucesso, cuja origem é o próprio coração humano, tendo como base as necessidades e motivações criadas pela mentalidade coletiva oriunda de uma cosmovisão mundana que se alastra como câncer dentro de algumas igrejas no meio evangélico. Isso sem contar os impulsos inerentes a nossa natureza, que na grande maioria dos casos devem ser dominados.

Nós perdemos muito quando deixamos a pirâmide de Maslow se tornar uma espécie de centro nas pregações, sobretudo, quando criamos e adoramos imagens mentais de um Jesus que “se manifesta” como se fosse nosso empregado. Afinal, nós cumprimos todos os seus princípios e, Ele, pressionado por tanta retidão da nossa parte, não pode faltar.

Não se deixe enganar! Deus não se agrada de nos achar confiados na suposta capacidade de cumprir princípios. Embora sejamos impelidos a isso, o que Ele realmente deseja é que sejamos honestos e completamente dependentes da sua graça, pois somente em Cristo tais princípios são cumpridos. Então, devemos fugir da hipocrisia e repensar a nossa condição humana antes de “pressioná-lo” com as nossas exigências infantis. Nas palavras de Jesus: “Porventura, terá de agradecer ao servo porque este fez o que lhe havia ordenado? Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer.” [Lc 17.9,10]. O Senhor requer que sejamos filhos-servos humildes, completamente dependentes dEle. O texto deixa claro que Jesus tenciona nos ensinar uma saudável, espiritual e humilde maneira de pensar e agir.

O Senhor conhece e supre todas as nossas legítimas necessidades (de acordo com os seus propósitos) e nos ensina que devemos andar motivados sim, mas pelo seu reino.

Ao Cristo bíblico, ao Soberano Senhor, seja dada toda honra, glória e louvor!

No amor dEle,


Pr. André Cabral

quinta-feira, 21 de julho de 2011

PARA O NOSSO TEMPO

Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade [2Tm 4.3,4].

Segue uma coletânea de textos bíblicos, na tradução NVI, sobre passagens importantíssimas que, ao contrário na prática comum em nossas igrejas, deveriam ser lidos, pensados, ensinados, discutidos, para edificação dos fiéis. As palavras e frases em negrito, existentes nas referências bíblicas, daqui por diante, foram inseridas no intuito de gerar conexões e explicitar alguns pensamentos. O restante foi escrito de acordo com a tradução anteriormente citada. Boa Leitura! 


Texto de Referências Bíblicas:
Há muitos insubordinados, que não passam de faladores e enganadores, especialmente os do grupo da circuncisão. É necessário que eles sejam silenciados, pois estão arruinando famílias inteiras [pela exploração com histórias que inventaram (2Pe 2.3)], ensinando coisas que não devem, e tudo por ganância [Tt 1.10,11]. Tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas. Eles afirmam que conhecem a Deus, mas por seus atos o negam; são detestáveis, desobedientes e desqualificados para qualquer boa obra [Tt 1.15,16].

No passado surgiram falsos profetas no meio do povo, como também surgirão entre vocês falsos mestres, [escarnecedores zombando e seguindo suas próprias paixões (2Pe 3.3)]. Estes introduzirão secretamente heresias destruidoras [fábulas engenhosamente inventadas (2Pe 1.16)], chegando a negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. Muitos seguirão os caminhos vergonhosos desses homens e, por causa deles, será difamado o caminho da verdade. Em sua cobiça, tais mestres os explorarão com histórias que inventaram. Há muito tempo a sua condenação paira sobre eles, e a sua destruição não tarda [2Pe 2.1-3].

Insolentes e arrogantes, tais homens não tem medo de difamar [2Pe 2.10] o que desconhecem e são como criaturas irracionais, guiadas pelo instinto [não têm o Espírito (Jd 19)], nascidas para serem capturadas e destruídas; serão corrompidos pela sua própria corrupção! [2Pe 2.12].

Eles receberão retribuição pela injustiça que causaram. São nódoas e manchas, regalando-se em seus prazeres [2Pe 2.13], iludem os instáveis e têm o coração exercitado na ganância. Malditos! Eles abandonaram o caminho reto e se desviaram, seguindo o caminho de Balaão que amou o salário da injustiça [2Pe 2.14,15].

Esses homens são fontes sem água e névoas impelidas pela tempestade. A escuridão das trevas lhes está reservada, pois eles, com palavras de vaidosa arrogância e provocando os desejos libertinos da carne, seduzem os que estão quase conseguindo fugir daqueles que vivem no erro. Prometendo-lhes liberdade, eles mesmos são escravos da corrupção [2Pe 2.17-19].

Muitos falsos profetas têm saído pelo mundo [1Jo 4.1]. Eles vêm do mundo. Por isso, o que falam procede do mundo, e o mundo os ouve [1Jo 4.5].

Homens, cuja condenação já estava sentenciada há muito tempo, infiltraram-se dissimuladamente no meio de vocês. Estes são ímpios, e transformam a graça de nosso Deus em libertinagem e negam Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor [Jd 4].

Esses tais difamam tudo o que não entendem; e as coisas que entendem por instinto [não têm o Espírito (Jd 19)], como animais irracionais, nessas mesmas coisas se corrompem [Jd 10].

Ai deles! Pois seguiram o caminho de Caim [o caminho da não obediência à Palavra, do esforço próprio, da desconsideração quanto à soberania de Deus], buscando o lucro caíram no erro de Balaão [Jd 11].

Esses homens são pastores que só cuidam de si mesmos [buscam os seus próprios interesses e não os de Jesus (Fp 2.21)]. São nuvens sem água, impelidas pelo vento; árvores de outono, sem frutos, duas vezes mortas, arrancadas pela raiz. São ondas bravias do mar, espumando seus próprios atos vergonhosos; estrelas errantes, para as quais estão reservadas para sempre as mais densas trevas [Jd 12,13].

Essas pessoas seguem os seus próprios desejos impuros; são cheias de si e adulam os outros por interesse [ainda que a Palavra em outro lugar diga: não façam diferença entre as pessoas, tratando-as com parcialidade. Vocês têm desprezado o pobre (Tg 2.1,6)]. Os quais seguem a tendência da sua própria alma e não têm o Espírito [Jd 16,19].

O nosso desejo é que estas palavras “mexam” no seu interior e que o Espírito Santo promova reflexões saudáveis, assim como ações coerentes.

Obviamente, pregar o evangelho não se resume em apreender, aprender, construir um corpo de conhecimentos inerente aos saberes que estão contidos nos textos anteriores. Mas, hoje, sobretudo, em razão dos excessos que podemos encontrar em um dos maiores meios de graça que Deus nos deu, os púlpitos das igrejas, torna-se necessário não ignorarmos e negligenciarmos este assunto.

Se você tem mais dois minutos, não deixe de ler um texto imperdível e inspirador da Teologia Reformada.

No amor de Cristo,

Pr. André Cabral


Texto
De fato, seja que uns em suas próprias superstições se perdem, seja que outros, de propósito firmado, de Deus impiamente se alienam, afinal todos se degeneram de seu verdadeiro conhecimento. E assim resulta que no mundo não subsiste nenhuma piedade genuína.

Entretanto, ao afirmarmos que alguns que foram traduzidos à superstição pelo erro resvalam, não quero com isso dizer que sua ingênua insipiência os isente de culpa, porquanto a cegueira em que laboram está quase sempre emaranhada não só de arrogante vaidade, mas ainda de insolente contumácia. Nisso se percebe vaidade, e certamente aliada ao orgulho, a saber, que, buscando a Deus, os desventurados seres humanos não sobem além de si mesmos, como seria necessário, antes o medem em conformidade com o padrão de sua obtusidade carnal, e negligenciando a sólida investigação, movidos de curiosidade, andam em volta de vãs especulações.

Por isso não o apreendem como ele se apresenta; ao contrário, o imaginam justamente como em sua temeridade o forjaram.

Escancarada esta voragem, para qualquer lado que movam o pé, à ruína fatalmente haverão sempre de precipitar-se. Ora, tudo quanto intentam em seguida para o culto ou serviço de Deus, nenhum peso podem atribuir-lhe, porquanto não estão adorando a ele mesmo, mas, antes, em vez dele, adoram a fantasia e sonho de seu coração. Paulo frisa esta depravação eloqüentemente, ao dizer que se fizeram fúteis, quando aspiravam ser sábios [Rm 1.22]. Já antes dissera [Rm 1.21] que se fizeram fúteis em suas cogitações; mas, para que ninguém os eximisse de culpa, acrescenta que vieram, com justiça, a ser cegos, porquanto, não contentes com a sobriedade, ao contrario, arrogando-se mais do que é próprio, fazem com que por si mesmos lhes sobrevenham trevas; ainda mais: em sua vã e ruinosa petulância, se tornaram estultos. Donde se segue que a estultícia não lhes é justificável, cuja causa não é simplesmente vã curiosidade, mas o desejo de saber mais do que convém, aliado à falsa presunção (João Calvino, As Institutas). 


Que a graça e a paz sejam contigo!